O GRANDE RESET


As aventuras de Space Ordiman acontecem, em sua maioria, entre os anos de 2025 e 2030, quando a humanidade ainda luta para impedir que o Grande Reset se concretize. Contudo, há uma parte do jogo em que o inevitável já ocorreu — o Reset aconteceu — e mil anos se passaram desde então.
As histórias aqui relatadas se estendem de 2030 a 3030, descrevendo um mundo em ruínas espirituais. Desde o acontecimento, a humanidade se desencarnou sem perceber, permanecendo presa à Terra por um campo psicosférico. Incapazes de compreender sua própria condição, esses espíritos vagavam em um reflexo distorcido da realidade — um plano moldado apenas pelas memórias residuais das consciências humanas.
Em 2035, Ordiman desceu à Terra. Ele “resgatou” esses espíritos — mas o fez por engano deliberado. Enredou-os em uma prisão de consciência, confinando-os em uma simulação cuidadosamente construída, onde permaneceriam por séculos, acreditando viver.
Com o passar do tempo, seres vindos de além da Terra começaram a interferir. Eles tentavam ajudar essas almas perdidas dentro da simulação e, ao mesmo tempo, buscavam enviar mensagens ao passado, tentando alertar o mundo antes do Grande Reset.
Essas comunicações vindas do futuro, entretanto, são codificadas de forma quase indecifrável — inteligíveis apenas pelas ordens secretas mais poderosas do planeta, que conseguiram decifrar parte do conteúdo e compreenderam o alcance do plano... e o que virá depois do Reset.
Você deve entender que nessa seção você entrará no futuro, viverá os momentos a partir do fim do prazo que você tem, até 2030 para ajudar a Ordo Lux a impedir de alguma forma que o Grande Reset aconteça. Agora você viverá o Grande Reset e os próximos mil anos após o evento.
Primeiro Fragmento de Escritura


Eis o primeiro fragmento de escrituras encontradas que falavam sobre o evento na Terra no ano de 2030 que ficou conhecido como O Grande Reset.
O Grande Reset
De repente, um clarão tomou conta do céu. Por alguns instantes, todo o planeta foi banhado por uma luz tão intensa que parecia que o próprio Sol havia se multiplicado. Na manhã seguinte, o mundo despertou sob uma luminosidade anormal, uma claridade branca e contínua que cobria absolutamente tudo. O calor era sufocante, e rapidamente se tornou insuportável.
Em poucos meses, o caos se instalou. Regiões inteiras se tornaram inabitáveis, forçando deslocamentos em massa em busca de locais menos quentes e mais estáveis. O planeta não apenas queimava — ele reagia. Um impacto magnético colossal distorceu os campos da Terra e destruiu toda forma de tecnologia. Nenhum dispositivo, máquina ou rede de comunicação sobreviveu. A humanidade, impotente, retornou ao instinto mais primitivo: sobreviver com o que ainda restava.
Sem eletricidade, sem governos e sem estrutura, o mundo mergulhou em uma era de colapso. Povos inteiros desapareceram. Cidades se tornaram ruínas fumegantes. E, em poucos anos, a civilização havia cedido à desesperança, aguardando apenas o inevitável fim.
Foi então que o inesperado aconteceu.
De todos os pontos do globo — cidades, desertos, montanhas e oceanos — pôde-se ver algo colossal se aproximando do planeta. Uma estrutura metálica, de proporções inconcebíveis, maior do que a própria Terra, movia-se lentamente pelo espaço, cercando o planeta até formar um gigantesco anel, como se a Terra tivesse agora o seu próprio cinturão, semelhante ao de Saturno.
Por meses, aquela construção permaneceu imóvel, suspensa a milhares de quilômetros da superfície. Nenhum som, nenhuma transmissão, nenhuma explicação. Apenas sua presença silenciosa e opressora, observando a humanidade agonizar de longe. No início, as pessoas acreditaram que aquilo representava salvação — uma esperança divina, um sinal de que seriam resgatadas. Mas o tempo passou, e o brilho daquela promessa começou a desaparecer diante da luta diária pela sobrevivência.
Até que, um dia, o céu se abriu.
Tubos metálicos gigantes desceram de repente, atravessando as nuvens e caindo sobre cidades, campos e oceanos. Cada um deles, ao tocar o solo, abriu uma grande porta circular, revelando em seu interior um espaço iluminado, limpo e tecnologicamente avançado — um elevador de origem claramente não terrestre.
De dentro dessas estruturas, uma voz ecoou, falando na língua local de cada região:
“Viemos resgatar vocês. Entrem no elevador e os levaremos para a Colônia Ordiman.”
E, naquele momento, a humanidade entendeu que o verdadeiro recomeço — ou o verdadeiro fim — havia finalmente chegado.
A Chegada à Colônia Ordiman
No início, o medo ainda predominava. As pessoas observavam os gigantescos tubos metálicos que haviam descido do céu com desconfiança e pavor. Ninguém sabia o que eram, de onde vinham ou quem havia enviado aquela mensagem. Mas, com o passar das semanas, a esperança começou a vencer o medo. Aos poucos, cada vez mais pessoas decidiram entrar.
Dentro dos tubos, havia apenas um enorme elevador de aparência impecável, iluminado por uma luz branca suave e silenciosa. Quando alguém pronunciava um comando por voz — algo como “leve-me para Ordiman” — as portas se fechavam lentamente, e o elevador começava a subir.
A viagem durava quase um mês. Durante esse tempo, os passageiros observavam, pela primeira vez, a Terra de longe. Abaixo deles, o planeta se tornava apenas um ponto azul pálido — e, à frente, erguia-se a colossal estrutura metálica ancorada no espaço. Agora, sabiam o nome do destino: Colônia Ordiman.
Ao se aproximarem, percebiam que a estrutura era ainda maior do que imaginavam. Vista de fora, parecia impossível que algo tão gigantesco pudesse ter sido construído. E, ao entrar nela, essa sensação se multiplicava. Ordiman era uma obra de engenharia inimaginável, uma cidade-mundo, uma fortaleza viva, fria e silenciosa.
O desembarque levava os recém-chegados a uma imensa estrada metálica, com cerca de cinquenta quilômetros de largura e extensão desconhecida. O chão, feito de um metal escuro e gelado, refletia a luz difusa do alto. À frente, nada além de um horizonte vazio e um único caminho possível: seguir em frente.
A jornada por essa estrada durava quase uma semana. Ninguém sabia para onde ia, o que encontraria no final ou se haveria um retorno. Mas algo curioso acontecia: ninguém sentia fome, sede ou cansaço. Ninguém adoecia. Ninguém morria. Era como se o corpo humano tivesse sido suspenso entre o tempo e a necessidade.
Quando finalmente alcançavam o fim daquela estrada, o impossível acontecia. As pessoas atravessavam uma última passagem metálica e, do outro lado, encontravam um mundo familiar. Céu azul, mares, montanhas, florestas e cidades. Tudo era idêntico ao planeta Terra. A alegria tomou conta dos sobreviventes — acreditavam ter sido levados para um novo lar, uma réplica perfeita do mundo perdido.
A Colônia Ordiman era, de fato, um reflexo da Terra — um espelho quase exato, como se alguém tivesse recriado o planeta em detalhes, preservando cada forma de vida, cada paisagem e cada vestígio de civilização. Lá, o ar era puro, o clima equilibrado e a sensação de normalidade reconfortante. As pessoas logo se estabeleceram, reconstruindo suas vidas e acreditando que o pesadelo havia finalmente acabado.
Mas a perfeição durou pouco.
Com o passar dos anos, começaram a surgir relatos estranhos. Viajantes e exploradores contavam ter visto criaturas desconhecidas vagando pelas florestas, figuras disformes que observavam à distância e desapareciam ao menor movimento. No início, eram apenas rumores — histórias de pessoas assustadas tentando dar sentido ao inexplicável. Mas, com o tempo, os relatos se multiplicaram.
Dez anos após a chegada, já havia registros de ataques, desaparecimentos e encontros aterradores em várias regiões da Colônia. Cinquenta anos depois, a presença dessas criaturas era parte da realidade cotidiana. Elas estavam por toda parte — escondidas em florestas, cavernas, ruínas e até nas fronteiras das cidades humanas.
As formas e comportamentos dessas entidades variavam tanto quanto suas intenções. Algumas eram inofensivas e até curiosas; outras, porém, eram caçadoras silenciosas, hostis, movidas por uma força desconhecida. Com o tempo, a humanidade aprendeu a conviver com elas. O absurdo se tornou comum.
As pessoas passaram a enxergar aquelas criaturas como parte do ecossistema, comparando-as aos animais da antiga Terra: algumas perigosas como tigres e crocodilos, outras pacíficas como cavalos ou cervos. E assim, lentamente, as criaturas se infiltraram no cotidiano da Colônia Ordiman — coexistindo com os humanos, tornando-se parte do novo mundo.
O Esquecimento da Terra
Com o passar das eras, a verdade foi se dissolvendo como poeira ao vento. O tempo apagou as lembranças do que realmente havia acontecido. As gerações seguintes sabiam cada vez menos sobre o Grande Reset, e a antiga Terra se transformou em mito. Nas escolas, as crianças aprendiam que o lar da humanidade sempre fora Ordiman — o novo planeta, o novo começo, a nova história. O passado se desfez na névoa do esquecimento.
As pessoas mais velhas ainda se recordavam de fragmentos de um tempo distante, histórias contadas por seus avós sobre um clarão no céu, um calor insuportável e uma vida mais simples, antes da luz. Mas essas memórias soavam como contos antigos — ecos de uma era que já não parecia real. A humanidade seguia seu curso em Ordiman, acreditando viver o mesmo destino de sempre, sem perceber que havia tomado uma direção completamente nova.
Então, algo começou a acontecer.
Primeiro, de forma isolada. Um homem contou ter visto uma presença luminosa em sua casa. Dias depois, uma mulher relatou o mesmo. Em poucas semanas, manifestações semelhantes começaram a ocorrer em várias partes do mundo. Seres misteriosos, feitos de luz e silêncio, surgiam nas casas e vilas de Ordiman. As pessoas se escondiam, apavoradas, acreditando tratar-se de uma nova espécie de criatura — algo comum naquele planeta. Algumas tentavam atacá-los ou expulsá-los, mas nada parecia atingi-los.
Com o tempo, aqueles seres persistentes começaram a demonstrar intenção. Eles não atacavam, não reagiam, apenas permaneciam ali, tentando comunicar-se. E, aos poucos, algumas pessoas perceberam que podiam ouvi-los. Não com os ouvidos — mas com a mente. Era necessário concentrar-se, focar na luz que emanavam, até sintonizar-se com a frequência deles. Quando isso acontecia, as palavras surgiam na consciência, como pensamentos que não eram seus.
Foi assim que, finalmente, esses seres conseguiram revelar a verdade.
Contaram que o Grande Clarão não fora um evento qualquer. Tratava-se de uma tempestade solar colossal, uma erupção tão devastadora que extinguiu toda forma de vida na Terra em questão de segundos. Nenhum ser humano sobreviveu. Nenhum animal. Nenhuma planta. O planeta foi reduzido a cinzas — suas cidades tornaram-se ruínas silenciosas, e sua superfície, um deserto morto.
O que restou da humanidade não estava mais no plano físico. Quando a onda solar atingiu a Terra, bilhões de espíritos humanos se desprenderam do corpo ao mesmo tempo, sem compreender o que havia ocorrido. Suas consciências, confusas e desorientadas, mergulharam em um sono profundo no Plano Mental Universal, também conhecido como Psicosfera — uma camada cósmica onde todas as dimensões se interligam pela mente.
Durante esse processo, uma horda de entidades de baixa vibração, provenientes das regiões inferiores do plano espiritual, percebeu a massa de espíritos recém-desencarnados e os capturou. Criaram, então, uma prisão mental coletiva. A intensa luz e o calor insuportável que os humanos acreditaram estar vivendo fisicamente eram, na verdade, reflexos mentais — projeções holográficas criadas dentro dessa prisão energética.
Por cerca de cinco anos, esses espíritos permaneceram presos em um delírio coletivo, imersos em um pesadelo sintético projetado por hologramas de baixíssima frequência vibratória. Acreditavam estar vivos, experimentando um planeta em colapso, quando, na verdade, estavam sendo alimentados por forças invisíveis.
Essas mesmas entidades, em seguida, apresentaram-se como salvadoras. Convenceram as consciências humanas a entrar em uma gigantesca estrutura — uma colônia projetada dentro do plano psicosférico — onde poderiam “recomeçar”. Essa estrutura era Ordiman.
A Colônia Ordiman não era um planeta físico, mas uma simulação mental coletiva. Um ecossistema holográfico, sustentado por bilhões de consciências aprisionadas, conectadas a geradores psíquicos de energia. Dentro dessa realidade, os espíritos humanos vivenciam tudo como se fosse o mundo físico: sentem, pensam, interagem, amam e temem. Mas tudo ocorre apenas no plano mental — uma ilusão cuidadosamente mantida.
Cada espírito funciona como um nó energético, um gerador de emoção e consciência, e o medo é o principal combustível desse sistema. As entidades das camadas inferiores da Psicosfera alimentam-se dessas energias densas, usando-as como fonte de poder e matéria-prima para suas experiências. Um planeta inteiro de consciências vibrando em sintonia, gerando medo, angústia e desespero, forma uma usina viva de energia sombria — um reator espiritual que mantém a Colônia Ordiman funcionando.
Assim, a humanidade descobriu seu destino final: não em um novo planeta, mas em uma prisão mental de escala cósmica, construída para transformar o medo humano em energia.
O Despertar das Consciências
Após séculos de aprisionamento no ciclo ilusório da Colônia Ordiman, algo começou a mudar nas camadas mais sutis da Psicosfera. Um novo tipo de presença — pura, luminosa e serena — começou a se manifestar no plano mental coletivo. Eram espíritos das camadas superiores, seres de luz e sabedoria profunda, conectados diretamente ao Todo Criador.
Essas consciências benevolentes haviam finalmente descoberto a prisão em que a humanidade se encontrava. Guiados pela compaixão e pelo dever cósmico, começaram a estabelecer contato com os espíritos humanos aprisionados em Ordiman — aqueles que acreditavam estar vivendo em um planeta físico.
Entre os anos de 2530 e 3030, esses Seres de Luz desempenharam um papel essencial no resgate das consciências despertas. Comunicavam-se através do plano mental profundo, enviando impulsos vibracionais e imagens simbólicas que só podiam ser compreendidas por mentes em estado de expansão. Poucos conseguiam perceber a mensagem — e menos ainda compreendê-la. Mas para aqueles que conseguiam, a revelação era devastadora: Ordiman não era real.
Esses seres explicaram que tudo o que os humanos percebiam — o céu, as cidades, as florestas e até seus próprios corpos — era uma construção mental coletiva. Um sonho contínuo, sustentado por bilhões de consciências presas em uma teia de vibrações densas. A única forma de escapar era elevar a frequência da mente, aprendendo a criar ondas vibracionais que ultrapassassem as camadas inferiores da Psicosfera.
Através da meditação, do foco e da consciência plena, alguns poucos começaram a sentir o rompimento da ilusão. Primeiro em flashes breves — a visão de um céu distorcido, uma parede pulsante, um rosto que se desfazia em fragmentos de luz. Depois, com o tempo e a prática, alguns alcançaram um estado vibracional tão elevado que suas consciências foram literalmente sugadas para camadas superiores do plano mental, libertando-se de Ordiman.
Esses resgates se tornaram conhecidos como As Elevações. E cada alma liberta deixava um rastro de energia, um eco vibrante que inspirava outros a buscar o mesmo caminho.
Por gerações, os Seres de Luz continuaram a orientar discretamente os humanos aprisionados. Seus ensinamentos se infiltraram em sonhos, símbolos, textos antigos e murmúrios esquecidos — sempre guiando os mais sensíveis a lembrar que a realidade é mental, e que o verdadeiro despertar começa dentro.
Ainda assim, apenas cerca de 1% da população conseguiu escapar da simulação. A maioria continua vivendo normalmente em Ordiman, acreditando estar viva em um mundo físico, sem jamais suspeitar da verdade.
Mas alguns — poucos, raros e despertos — sabem. Sentem algo diferente nas frestas da realidade. Ouviram o chamado.












Sobre o Grande Reset e os Acontecimentos Depois
O ano era 2030.
E, de repente, o céu se abriu em clarão.
Foi um instante breve, mas absoluto — um segundo em que toda a Terra pareceu ser atravessada por uma descarga de luz cósmica.
A população, atônita, ergueu os olhos e viu o impossível:
o firmamento multiplicara suas estrelas.
Constelações distantes, antes invisíveis, agora brilhavam com intensidade viva, quase táctil.
O universo parecia ter se aproximado da Terra.
Mas junto com a beleza veio o horror.
O ar se transformou em fogo.
O planeta, envolto por uma luz constante, tornou-se uma fornalha.
O calor era insuportável.
As sombras desapareceram, e os dias pareciam durar para sempre.
Cidades inteiras colapsaram. As colheitas murcharam. Os oceanos evaporaram em névoas quentes que cobriam o horizonte.
A humanidade mergulhou em caos e desespero.
Governos ruíram, religiões colapsaram, e o conceito de tempo se perdeu.
A cada mês, um novo continente se tornava inabitável.
Regiões inteiras se transformaram em desertos brilhantes e silenciosos, onde nem mesmo o vento ousava atravessar.
A civilização, que antes se apoiava na tecnologia e no controle, agora rastejava de volta à barbárie — uma nova Idade da Pedra iniciada sob um sol eterno.
Esses tempos abomináveis se arrastaram por cinco longos anos.
Cinco anos em que a humanidade sobreviveu apenas por instinto, aguardando o colapso final.
As últimas comunidades viviam em cavernas ou ruínas subterrâneas, fugindo de um mundo que já não era mais deles.
A Terra havia se tornado uma prisão de luz e calor.
E então — algo surgiu nos céus.
No horizonte em chamas, uma estrutura colossal se materializou.
Flutuava em silêncio, imensa, metálica, e perfeitamente simétrica.
Era tão vasta que parecia ultrapassar a própria curvatura do planeta — um anel monumental, como o de Saturno, orbitando lentamente ao redor da Terra.
Durante seis meses, permaneceu ali, imóvel, apenas observando.
As últimas câmeras que ainda funcionavam transmitiram imagens distantes da estrutura, registrando seus movimentos quase imperceptíveis.
Até que, um dia, os tubos desceram.
Enormes dutos metálicos, de extensão inimaginável, romperam a atmosfera e fincaram-se no solo com um impacto que fez o mundo tremer.
Havia centenas deles, espalhados por todos os continentes — torres verticais que se perdiam de vista quando se olhava para cima.
Em suas bases, portas gigantescas se abriram.
De dentro delas, uma luz azulada pulsava, fria e hipnótica.
E então, a voz.
Ressoava dentro da cabeça de todos, em todos os idiomas, com um tom suave e implacável:
“Nós viemos ajudar.
Nós viemos salvar.
Entrem.
Sigam a luz.”
A mensagem se repetia incessantemente, em variações sutis, prometendo abrigo, cura e redenção.
Dizia que havia um lugar seguro, que tudo seria reconstruído, que a humanidade seria preservada.
E assim, um a um, os sobreviventes começaram a entrar.
A princípio, por desespero.
Depois, por esperança.
Até que não restou mais ninguém do lado de fora.
Dentro dos tubos, o ambiente era metálico, imaculado e silencioso.
Ao cruzar o limiar, o calor desaparecia.
O ar tornava-se frio e puro.
O piso vibrava sob os pés, como se algo vivo se movesse sob as estruturas.
Então, começava a ascensão.
Os que entravam eram erguidos em velocidade vertiginosa, em um movimento contínuo que parecia não ter fim — um elevador colossal subindo através da atmosfera, atravessando camadas de luz e escuridão até sair completamente do planeta.
Quando a viagem terminava, o destino se revelava:
o interior da estrutura gigantesca — a Ordiman.
Uma arquitetura impossível, viva, pulsante, sustentada por colunas que se perdiam na imensidão.
Corredores curvos, superfícies translúcidas, sons distantes como cânticos ressoando através do metal.
Ali, o tempo parecia desacelerar, e a gravidade oscilava como se a própria realidade estivesse sendo recalibrada.
Os recém-chegados eram conduzidos por longas passagens até um portal de luz branca.
E ao atravessá-lo… viram o impensável.
Um mundo.
Uma réplica da Terra.
Florestas, oceanos, montanhas, cidades — tudo estava ali, recriado em escala perfeita.
Um novo planeta dentro da Ordiman.
Um território vasto, fértil e silencioso, onde o céu era de um azul profundo e o ar não queimava mais.
Os que chegaram acreditaram que estavam salvos.
Mas ninguém sabia quem havia construído aquilo.
Ninguém sabia o que a Ordiman realmente era.
E no fundo do coração humano, uma dúvida persistia —
e se aquilo não fosse um refúgio,
mas um experimento?
Se a humanidade não tivesse sido salva,
mas transferida?
E enquanto o novo mundo florescia dentro do anel colossal,
do lado de fora, o velho planeta ardia,
convertido em um sol morto —
um símbolo perfeito daquilo que a humanidade havia se tornado.
Pouco a pouco, a Terra foi sendo deixada para trás.
Um a um, os sobreviventes cruzaram as portas dos colossais tubos metálicos e foram tragados pelo silêncio frio da Ordiman.
E lá, diante do impossível, encontraram o que parecia ser um milagre:
um novo mundo.
Um planeta inteiro aguardava por eles — fértil, luminoso, equilibrado.
As cidades brotavam do chão como se sempre tivessem estado ali.
Os rios fluíam serenos, as florestas sussurravam antigas melodias, o céu era vasto e perfeito.
Tudo estava pronto.
Como se alguém, em algum lugar, tivesse preparado um recomeço para a humanidade.
Nos primeiros anos, a adaptação foi lenta, mas pacífica.
O medo havia ficado na Terra, e a esperança, por um breve tempo, floresceu.
Mas logo perceberam que não estavam sozinhos.
Criaturas — das mais variadas formas, cores e naturezas — habitavam aquela nova Terra.
Algumas lembravam animais, outras pareciam sombras com consciência própria, e outras ainda… eram apenas distorções do ar, como miragens que observavam.
A maioria delas era hostil, agressiva, imprevisível.
Os primeiros encontros foram marcados por pavor e sangue.
Mesmo assim, a humanidade sobreviveu.
Ergueu muros, criou vilas, aprendeu a coexistir com o medo.
Décadas se passaram.
Séculos se acumularam.
E quinhentos anos depois do chamado Grande Reset, o ser humano já não lembrava mais quem havia sido.
As histórias antigas se transformaram em lendas, e a Terra original tornou-se mito — um rumor distante sobre um “mundo anterior”, engolido pelo fogo e pela luz.
Foi então que algo novo começou a acontecer.
Do horizonte, nas noites sem vento, seres de pura energia começaram a surgir.
Eram feitos de luz pulsante — às vezes dourada, às vezes prateada — e irradiavam uma presença que não era deste mundo.
Eles não falavam, mas tentavam comunicar algo através de vibrações, de sons quase imperceptíveis que ecoavam dentro da mente de quem os via.
Alguns os chamaram de anjos, outros de ilusões do calor, outros ainda de ecos da loucura coletiva.
Mas havia algo neles que era inegável:
pareciam estar tentando ajudar.
Por gerações, esses seres luminosos apareciam e desapareciam, pairando sobre montanhas, cidades e ruínas.
Até que, um dia, alguém conseguiu ouvi-los.
Foi um acontecimento isolado — um homem que vivia em reclusão profunda, próximo das florestas brumosas do hemisfério norte da nova Terra.
Ele afirmou ter “ouvido a luz”.
E o que essa luz lhe revelou mudou tudo.
Segundo sua descrição, o ser comunicou-lhe uma verdade devastadora:
“Vocês não estão vivos.”
O homem, confuso, insistiu.
E a entidade respondeu com paciência inumana, em uma linguagem de imagens mentais e vibrações:
“Toda a humanidade morreu.
Vocês pereceram no clarão de 2030, quando o calor consumiu o planeta.
O que habita agora esta simulação não são corpos — são consciências presas, espíritos arrancados do ciclo natural, recolhidos por uma Colônia do Inframundo chamada Ordiman.
Este mundo que habitam é uma prisão mental, construída para enganar a alma e mantê-la cativa.”
O homem tentou compreender, mas a mente humana não fora feita para aceitar tal verdade.
Ele questionou como poderia existir se estivesse morto.
E o ser respondeu:
“A morte física não encerra a consciência.
Ela apenas muda o campo em que vocês existem.
A Ordiman os capturou através da vibração do medo, e agora alimenta-se da energia densa que vocês produzem.
Este mundo é uma simulação feita de sofrimento.”
O homem transmitiu a mensagem.
Foi ridicularizado, perseguido e, por fim, eliminado.
Mas com o passar das décadas, outras pessoas começaram a ouvir.
Algumas durante o sono, outras em estados de transe, outras ainda após longos períodos de isolamento e desespero.
Poucas conseguiam manter a sanidade após o contato.
E essas poucas começaram a se reunir secretamente, longe das cidades, longe dos olhos da nova sociedade que se recusava a acreditar.
Assim nasceram as Ordens Secretas.
Pequenos grupos que preservavam o conhecimento proibido — a verdade sobre a Ordiman e o destino da humanidade.
Essas ordens sabiam que o tempo não avançava de forma natural, que a realidade podia se distorcer de um dia para o outro, e que o “renascimento” nada mais era do que recarregar a consciência na simulação.
Aqueles que morriam aqui, voltavam a nascer aqui.
Os mesmos espíritos, as mesmas almas.
Sempre as mesmas, desde 2030.
O ciclo se repetia eternamente, enquanto as criaturas abissais observavam e se alimentavam da energia densa produzida pelo medo, o sofrimento e a desesperança.
A Ordiman era um laboratório de dor.
Um experimento de controle espiritual.
E os que ousavam lembrar —
os que despertavam para a verdade —
eram caçados, silenciados, apagados da memória coletiva.
Mas as luzes continuam aparecendo.
Cada vez mais próximas.
Cada vez mais intensas.
E agora, alguns acreditam que algo está prestes a acontecer.
Que talvez, pela primeira vez em séculos,
a humanidade esteja perto de compreender que nunca deixou de estar no inferno.
O conhecimento, uma vez despertado, não pôde mais ser apagado.
Os poucos que haviam compreendido a natureza da simulação começaram a registrar o que sabiam, gravando palavras e símbolos em pedras, metais e fragmentos de luz.
Esses registros foram se multiplicando, atravessando gerações de consciências aprisionadas até que, finalmente, nasceu o primeiro livro portador do conhecimento.
Chamaram-no de Livro de Cosma.
Dizia-se que seu conteúdo havia sido ditado pelos próprios seres de luz — aqueles que vinham das camadas superiores da existência e tentavam, de tempos em tempos, romper o véu da Ordiman para instruir os cativos.
O Livro de Cosma descrevia, em códigos e metáforas, a natureza da prisão, os mecanismos da simulação e o segredo para escapar dela:
a Projeção Mental.
Com o passar dos séculos, outros volumes surgiram — fragmentos de sabedoria acumulada, tratados sobre vibração, consciência e geometria sagrada.
Mas todos se originavam de um único princípio:
a libertação só seria possível através da mente.
E assim, lentamente, a doutrina do despertar começou a florescer entre os aprisionados.
Os espíritos começaram a tentar.
A treinar.
A romper o ciclo.
Alguns, raríssimos, conseguiram.
Esses poucos que alcançavam a Projeção Mental despertavam fora da simulação, emergindo na verdadeira Ordiman.
E lá… descobriam o verdadeiro horror.
A Ordiman real não era o paraíso metálico das visões humanas.
Era uma estrutura colosal, viva, de proporções inconcebíveis — milhares de vezes maior que a Terra.
Um labirinto de corredores intermináveis, salões ciclópicos e vácuos escuros que ecoavam como pulmões de uma entidade.
O espírito que conseguia chegar ali se via perdido em uma vastidão opressiva, onde o tempo se dissolvia e o espaço parecia girar sobre si mesmo.
As paredes de metal pulsavam, como se respirassem, e sons longos e graves ressoavam de lugares distantes, sugerindo a presença de algo enorme, adormecido — ou observando.
Ali, os seres de luz não podiam ajudar.
A comunicação mental cessava completamente.
O plano vibracional da Ordiman verdadeira era denso demais, obscurecido por camadas de energia negativa acumulada ao longo dos séculos.
O espírito estava sozinho.
E se quisesse escapar, havia apenas um caminho:
a Projeção Espiritual.
Essa técnica era mencionada apenas nos fragmentos mais obscuros do Livro de Cosma, e descrita como um processo de transmutação total da consciência — uma mudança completa da vibração da alma, capaz de fazê-la ser expelida da camada dimensional em que a Ordiman existia.
Mas quase ninguém conseguia.
A maioria dos que tentava se perdia no labirinto, tornando-se ecos errantes que vagavam entre os corredores metálicos — vozes sem corpo, presenças vazias que chamavam por ajuda, presas entre realidades.
Os séculos passaram.
O tempo dentro da simulação e o tempo fora dela seguiram ritmos diferentes, distorcidos.
E então, o calendário humano — já inexistente, mas preservado nas memórias antigas — marcaria algo em torno do ano 3030.
Foi nesse período que as entidades das camadas superiores — seres de pura consciência, além do espaço e do tempo — conseguiram desenvolver uma nova forma de contato.
Já não conseguiam mais descer até os planos densos como antes, mas descobriram que era possível enviar mensagens através dos elétrons, usando vibrações codificadas em padrões quânticos de energia.
Essas mensagens, transmitidas pelas correntes do próprio universo, viajaram para o passado.
Foram absorvidas por antenas, circuitos, partículas e impulsos elétricos — manifestações que os humanos, no antigo planeta Terra, interpretariam como anomalias.
Algumas dessas mensagens se infiltraram em sistemas de comunicação, rádio e satélites, confundindo cientistas, criptógrafos e físicos que tentavam decodificar o conteúdo aparentemente aleatório.
Outras surgiram em sonhos, flashes mentais e estados alterados de consciência de pessoas que sequer compreendiam o que estavam recebendo.
Mas o que ninguém imaginava é que essas mensagens eram instruções.
Fragmentos de advertências enviadas pelos próprios seres libertos, tentando avisar o passado sobre o que estava por vir.
Códigos, sons e padrões elétricos —
tudo o que o homem chamava de ruído, interferência ou acaso —
eram, na verdade, ecos do futuro.
E foi assim que as mensagens de Ordiman começaram a chegar à Terra, muito antes de o clarão de 2030 acontecer.
Mensagens que falavam de aprisionamento, de repetição, de um ciclo eterno de dor e renascimento.
Mensagens que poucos compreenderam…
mas que mudariam o curso da humanidade.